Para o professor Ladislau Dowbor, do PPG em Administração da PUC-SP, “o drama é que nós não temos tanto tempo assim” para agir em benefício do Planeta. Em entrevista concedida por telefone para a IHU On-Line, Ladislau faz uma análise da situação do Planeta a partir dos dados apontados pelo relatório do IPCC que tratou do aquecimento global.
Formado em Economia Política pela Universidade de Lausanne, Suíça, e doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, Polônia (1976), Dowbor também faz consultoria para diversas agências das Nações Unidas, governos e municípios. É autor e co-autor de cerca de 40 livros, e de numerosos artigos. Destacamos o livro Formação do Terceiro Mundo. 15. ed. São Paulo: Brasiliense. O professor tem um site pessoal, onde publica seus artigos. O endereço é http://dowbor.org/
IHU On-Line - Quais os principais pontos de convergência e divergência entre os cientistas sobre o aquecimento global?
Ladislau Dowbor - O principal ponto é que há pouquíssimas divergências. Uma das coisas impressionantes do Relatório do Painel Intergovernamental, publicado em fevereiro, é que ele foi chamado o “relatório das certezas”. Foram deixadas de lado não as coisas sobre as quais há divergência, mas aquelas onde as certezas não são completas. Surgiram dúvidas apenas em relação a aspectos originados de pressões políticas. Temos, por exemplo, o grupo Exxon Mobil, que é produtor de petróleo, que tem financiado pessoas das mais variadas áreas para tentar dar suficientes “mexidas” no ambiente, para causar a impressão de que ninguém tem certeza das coisas. Na realidade, a grande característica é a convergência.
Existe um debate em curso referente a qual é a dimensão da participação humana nos processos de aquecimento global e qual é a parte das variações naturais, ligadas a ciclos solares. Esse é um argumento válido em termos científicos, mas em termos políticos é secundário. Mesmo que haja uma participação num processo natural de aquecimento, os impactos para a sociedade, para a agricultura, para a nossa vida vão ser iguais. Se a gente ainda, além de um processo natural, estiver aumentando as emissões do efeito estufa, as coisas só vão piorar. Hoje, no conjunto, estamos razoavelmente seguros do processo. Essa segurança está ligada à forma como olhamos para o futuro. Se começarmos a tomar medidas hoje, com mudanças corretivas climáticas, vamos ter que esperar algumas décadas até as coisas começarem a se reequilibrar.
O que preocupa, basicamente, é o seguinte: não podemos esperar ter todas as certezas para começa a agir. Porque o ritmo de mudar os rumos é muito lento pela inércia dos processos planetários. Esperar que as catástrofes surjam de maneira generalizada para começar a tomar medidas é simplesmente irresponsável.
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