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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O medo na cidade do Rio de Janeiro

“Talvez a permanência de uma certa naturalização deste quadro se observe nos corpos negros amontoados nas lixeiras da cidade do Rio de Janeiro nos dias de hoje: os traficantes-favelados apresentados ao deleite da mídia fazem parte do cenário vivo do teatro da escravidão.” Vera Malaguti Batista

A crítica marxista de Marilena Chauí (1985), defende que a violência seja inserida na história. A violência é multifacetada: seria tudo o que se vale da força para ir contra a natureza de um agente social; todo o ato de força contra um agente social; todo o ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); todo ato de transgressão contra aquilo que uma sociedade define como justo e como um direito.

Violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais marcadas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. A violência um fator negativo. A violência é um fenômeno dinâmico que pode ser definido e vivenciado de diferentes modos, principalmente quando relacionada à classe social dos envolvidos.
Segundo Chauí (2006, p. 104):
Em uma sociedade como a brasileira, podemos falar em uma divisão social do medo,
isto é, as diferentes classes sociais têm medos diferentes.

  • A classe dirigente teme perder o poder e seus privilégios; a classe dominante teme perder riquezas, [...];

  • a classe trabalhadora teme o desemprego, a morte cotidiana a violência patronal e policial, a queda vertiginosa na marginalidade, na miséria absoluta, [...],


  • Os medos são de queda na desumanização, medos de perder a condição humana e por isso medos que dizem respeito aos seus direitos. As classes populares não chegam a falar em nome dos direitos, falam em nome de algo que é pressuposto pelos direitos e que por estes deve ser concretizado;

    falam em nome da justiça.
    O impacto difusor na vida social e política do medo não é recente, remete diretamente a sua construção histórica cultural. Segundo Vera Malaguti Batista (2003) o medo coletivo – de tumultos populares, atividades criminosas alimentadas pela pobreza, insurreição de escravos, e o seu correlato repugnante, a “africanização” da nação nascente, desempenhou um papel central na formação da sociedade urbana do Brasil após a independência. Como observou Löic Wacquant (2003,p.10) no prefácio do livro de Malaguti Batista (idem),

    "ao desentranhar as raízes do medo e revelar seus mecanismos reguladores no século XIX, a autora nos permite entender tanto a atração como as limitações dos discursos do medo que cobrem com um manto fúnebre a metrópole brasileira no alvorecer do século XXI”.

    Em suma, a divisão social do medo faz parte da história da sociedade brasileira, sendo aprofundada na atualidade.

    Referência

    BATISTA, Vera Malaguti. O medo na cidade do Rio de Janeiro. Dois tempos de uma história. Rio de Janeiro: Revan, 2003.

    CHAUÍ, Marilena. Participando do debate sobre a mulher e a violência. Perspectivas Antropológicas da Mulher, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, n. 4, 1985.

    ______. Simulacro e poder – uma análise da mídia. São Paulo: Perseu Abramo, 2006.

    Midiatização da violência: os labirintos da construção do consenso

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