24/09/2010 - 17:09
Jornalistas, ONGs e partidos venezuelanos na lista
de pagamento dos EUA
Documentos revelados graças à Lei de Livre
Informação (Foia) provam que a secretária de Estado dos EUA
canaliza, subterraneamente, milhões de dólares por ano a
jornalistas e veículos de comunicação da Venezuela, pelo menos,
nos últimos três anos.
O "financiamento" desta informação
constitui parte integrante do programa total de "investimentos",
totalizando US$ 40 bilhões, a grupos contra o governo e contra o
Processo Bolivariano.
Exemplo característico, o Instituto Nacional para
a Democracia (National Endowment for Democracy), que entregou US$ 1,8
milhão às oposições, enquanto as organizações estudantis
receberam 1/3 dos últimos US$ 6 milhões, fornecidos pelo Serviço
dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).
A liberação das verbas é feita diretamente pela
Secretaria de Estado e pela Usaid, enquanto os documentos provam que,
durante o período 2007-2009, o desconhecido Escritório de
Democracia, Direitos Humanos e Trabalho (da Secretaria de Estado)
pagou pelo menos US$ 4 milhões a jornalistas da Venezuela, Nicarágua
e Bolívia, por intermédio da Pan-American Development Foundation
(PADF), com sede em Washington, que atua na América Latina desde
1962.
Ligações escondidas
Até o momento, somente documentos que revelam a
"cooperação" de jornalistas venezuelanos foram liberados,
os quais comprovam que a PADF, em cooperação com a MKO da Venezuela
- ligada à oposição - recebeu US$ 700 mil para pagar "salários
de cooperação" a jornalistas e financiar "programas
jornalísticos educativos".
A propósito, a Secretaria de Estado dissimula,
sistematicamente, seu papel de financiador dos veículos de
comunicação e dos jornalistas da Venezuela que, indiscutivelmente,
constituem uma das mais fortes armas da oposição contra o
presidente Hugo Chávez e o Processo Bolivariano.
Apesar do fato de que o total dos US$ 700 mil
exigidos por escrito pela Secretaria de Estado, a fim de serem postos
à disposição da PADF, não parecer astronômico, os grandes
volumes de recursos têm sido usados - de forma estratégica - na
aquisição de veículos de comunicação da Venezuela, cujos
jornalistas foram substituídos por outros, jovens, operações estas
conseguidas com a cooperação das ONGs da oposição, algumas das
quais concentradas dentro dos veículos de comunicação.
Entretanto, nenhuma organização revela sua
ligação com a Secretaria de Estado e, em seus sites oficiais, se
auto-intitulam organizações sem fins lucrativos e organizações
políticas não governamentais, independentes, autônomas e sem
ligação com partidos políticos, instituições religiosas,
organismos internacionais e governos estrangeiros.
Aliança com EUA e UE
A revelação do financiamento dos veículos de
comunicação e dos jornalistas da Venezuela pelos EUA confirma
relatório divulgado em maio deste ano pela organização européia
FRIDE, com sede
na Espanha, o qual revela que desde 2002 os EUA investiram cerca de
US$ 6 milhões anuais "em projetos com partidos políticos e
veículos de comunicação da Venezuela".
Mas, conforme revela o relatório da Fride (a qual
não simpatiza com o Governo Chávez, caracterizando-o como
"semi-autoritário"), "não são somente os EUA que
canalizam rios de dinheiro aos "contras" da Venezuela, mas,
também, a União Européia (UE), em busca da restituição do
"regime democrático representativo na Venezuela".
Ainda, de acordo com o mesmo relatório, "EUA
e UE enviam anualmente cerca de US$ 50 milhões aos partidos da
oposição venezuelana Primero Justicia, Un Nuevo Tiempo, Copei e,
naturalmente, veículos de comunicação e organizações estudantis.
Especificamente, a UE canaliza ainda cerca de 6 a
7 milhões de euros aos partidos políticos da oposição,
organizações não governamentais e veículos de comunicação.
Paralelamente, organizações européias, principalmente alemãs,
como o Instituto Neoliberal Konrad Adenauer (KAS) e o Instituto
Social-Democrata Friedrich Ebert (Oldis-FES), proporcionam
financiamentos extras aos partidos políticos, de oposição,
obviamente.
O relatório da Fride conclui revelando que "a
UE funciona como canal
intermediário para a triangulação do
financiamento dos EUA, com objetivo de evitar que sejam reveladas as
manobras do Governo dos EUA e seu estigma, por usar crua intervenção
nos assuntos internos da Venezuela".
Pedro Belasco
Sucursal do Caribe.
Guillermo Martinez
Correspondente.
28/09/2010 - 21:09
Estado deveria bancar mídia alternativa
O professor Marcos Dantas, do departamento de
Comunicação Social da PUC-RJ e integrante do Fórum Mídia Livre,
confirma que existe, sim, influência do Departamento de Estado
norte-americano e da União Européia no financiamento de agendas e
pautas da mídia venezuelana com o intuito de desestabilizar o
governo do presidente Hugo Chávez e seu Processo Bolivariano,
conforme publicou o MM, em sua página Internacional, na edição do
último final de semana.
Dantas, no entanto, considera que, pior do que a
intromissão externa, é o recrutamento de jornalistas na classe
média pela mídia burguesa local.
"Esses profissionais têm os mesmos valores
dos donos do jornal. Não é preciso do dinheiro do Pentágono para
fazê-los pensar como a elite", ponderou, em entrevista ao MM.
"Para tais repórteres, não dói fazer e dizer o que o patrão
quer", completou.
Diante disso, ele considera ser papel do Estado o
financiamento de uma mídia alternativa, que não expresse apenas os
interesses da elite e da classe média alta.
"Chávez banca uma rede de rádios
alternativa e fortaleceu a TV pública. Os conservadores chamam isso
de autoritarismo, mas nós também podemos chamá-los de imprensa
burguesa", ponderou.
Quanto ao Brasil, Dantas não compreende porque o
governo, além de não seguir o exemplo do presidente venezuelano,
ainda continua destinando polpudas verbas publicitárias a
publicações nitidamente oposicionistas.
"Na América Latina existe grande
concentração no setor de comunicações e, no Brasil, a situação
é ainda mais grave, pois não existe limite à propriedade cruzada -
um mesmo proprietário pode ter jornais, redes de TV, editoras,
rádios, etc. Mas, pior que a concentração física é a
concentração ideológica", arrematou.
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