Pesticide Action Network

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Stephen Kinzer

STEPHEN KINZER: A história da companhia que nos chamamos agora de BP que tem acontecido nas últimas centenas de anos tem significado a implantação do capitalismo transnacional global. Esta companhia começou como uma operação de exploração sem reservas confirmadas no Iran no passado na primeira década do século vinte. Ela era muito empreendedora e assumia riscos, e eles tinham um bando geólogos circulando nestas planícies e desertos, e finalmente eles encontraram o que foi a maior descoberta até a data da história da indústria do petróleo. Eles foram os que descobriram que o Iran estava em cima de um oceano de petróleo. Então eles decidiram que eles ficariam com isso. Sob um acordo corrupto que eles fizeram com poucos representantes da velha e declinante monarquia Iraniana, todos comprados pela companhia, esta concessão, que mais tarde ficou conhecida como a Companhia de Petróleo Anglo-Persa, garantiu para si mesmo, ou ganhou o direito de possuir, todo o petróleo Iraniano. Assim, ninguém no Iran tinha nenhum direito de explorar ou extrair petróleo ou vender petróleo.
Então, logo depois que esta descoberta foi feita, o governo Britânico decidiu comprar a companhia. Assim o parlamento passou uma lei e comprou 51% dessa companhia. E por todo os anos da década de 1920, 1930 e 1940, todo o padrão de vida que as pessoas na Inglaterra desfrutaram foi financiado pelo petróleo do Iran. Todos os caminhões e jipes da Inglaterra rodavam com petróleo Iraniano. As fábricas por toda a Inglaterra foram financiadas pelo petróleo Iraniano. A Marinha Real, que projetou seu poder por todo o mundo, era movida com 100% de petróleo do Iran. Assim isto se tornou um fundamento fundamental da vida Britânica.
E então, depois da Segunda Guerra, quando os ventos do nacionalismo e anti-colonialismo estavam soprando pelo mundo em desenvolvimento, os Iranianos desenvolveram essa idéia: nos temos que recuperar nosso petróleo. E essa era a idéia geral- uma espécia de paixão nacional que levou ao poder Mohammad Mosaddegh, que foi a mais proeminente figura no período democrático do Iran no fim dos anos 40 e início dos 50. Era o desejo de Mosaddegh, apoiado pelo voto unânime do parlamento democraticamente eleito do Iran, nacionalizar o que era então a Companhia de Petróleo Anglo Iraniana. Eles levaram adiante a nacionalização.
Os Britânicos e seus parceiros nos EUA resistiram fortemente a isso. E quando eles foram incapazes de prevenir que isso acontecesse, eles organizaram a deposição do Mosaddegh em 1953. Assim essa deposição não só produziu o fim do governo Mosaddegh, mas o fim da democracia no Iran, e isso desencadeou todas as outras consequencias. O Shah governou por vinte e cinco anos com repressão crescente. Seu governo produziu a explosão do regime Islâmico no final dos anos 70. Assim, foi com a intenção de proteger os interesses da companhia de petróleo que nos conhecemos hoje como BP que a CIA e o serviço secreto Britânico se juntaram para depor o governo democraticamente eleito no Iran e todas as consequencias que temos visto no Iran na última metade de século.

AMY GOODMAN: Bem, Stephen Kinzer, nos vamos avançar. Sua teoria, a tese que você propõe no seu livro Reset, é que pode existir uma aliança estratégica, um novo triângulo de poder, entre os EUA, Iran e Turquia. Exponha a história desses países que os fazem acreditar nisso e com quem os EUA pode se engajar hoje.

STEPHEN KINZER: Eu começo do princípio que a nossa política para o Oriente Médio está realmente parada numa era remota. Nossas políticas podem ou não ter feito sentido durante a Guerra Fria, mas a Guerra Fria acabou a mais de 20 anos. O ambiente estratégico do Oriente Médio mudou tremendamente. Novos desafios para os interesses Americanos e Ocidentais surgiram lá, e novas oportunidades também surgiram lá. Mas nossa política ainda está parada numa era passada. Nos estamos tentando lidar com problemas que na verdade não existem mais. Nos estamos muito atrasados no tempo.

Nos precisaríamos estar avançando para o século vinte hum e descobrir como nos queremos conformar nossas políticas para o Oriente Médio de tal forma que nos seja benéfica e produza o resultado que, a longo prazo, seja benéfica para os EUA no Oriente Médio, que traga estabilidade. As políticas que estivemos seguindo até agora tem fracassado flagrantemente em conseguir isso. Durante todo o período que os EUA tem sido a força dominante no Oriente Médio, nos acabamos produzindo uma região que é um poço de violência e de guerra de ódio e terrorismo. Então, nos estamos numa situação que Einstein se referiu como, Eu penso, quando ele definiu insanidade como fazer a mesma coisa repetidas vezes, mas esperando resultados diferentes. Isso é o que estamos fazendo no Oriente Médio. Assim eu começo da premissa que precisamos pensar grande. Nos precisamos romper com esse espectro limitado de opiniões aceitáveis e tentar pensar de uma forma mais criativa e original sobre como pode ser o futuro do Oriente Médio. E a segunda base para as minhas ideias é a de que precisamos para e pensar sobre o que fazer depois e no mês seguinte. Nos precisamos começar a pensar sobre o que fazer nas próximas décadas. Isto é algo que a política externa Americana faz notoriamente mal. Então, Eu estou tentando dar a minha contribuição.
É assim que vejo o problema. Eu penso que no futuro os EUA precisa encontrar parceiros na região. Eu penso que nos demostramos que nos não entendemos bem as legendas aqui, embora nos tenhamos essa ideia de que nos vamos pegar o Oriente Médio, outros países não pegam o Oriente Médio, incluindo países que estão lá, assim nossas políticas são as mais sábias e os países tolos da região que tem outras ideias são somente ignorantes e não sabem na verdade solucionar esses problemas.
Assim, quem deve ser nossos parceiros? Eu acredito que quando um país procura por parceiros, nos devemos estar procurando por países que atendem a dois critérios. Primeiro, eles devem ser países que tenham objetivos estratégicos de longo prazo que sejam relativamente coincidentes com os nossos. Mas isso não é o suficiente. Você também precisa uma outra coisa, porque alianças e parcerias que são baseadas em relacionamentos justos entre as elites dirigentes, alianças governo para governo, frequentemente tendem a ser muito frágeis, porque estes regimes com os quais negociamos são frequentemente impopulares nos seus próprios países. Assim sendo, uma vez que as pessoas não gostam de seus regimes, elas veem os EUA amigável com esses regimes, então eles não gostam de nos, também. Assim existe a necessidade de ter um segundo fundamento para o nosso relacionamento com nossos parceiros, e este é, você precisa encontrar países cujas sociedades são similares a nossa. Se você procurar no Oriente Médio Muçulmano, só existem dois países que se encaixam nesse critério – objetivos estratégicos de longo prazo similares aos nosso e sociedades que compartilham valores como os nossos – e estes são a Turquia e o Iran.
Agora, uma parceria entre estes dois países agora mesmo será difícil de ser estabelecida, embora Eu pense que não seja tão difícil quanto algumas pessoas imaginam, se nos realmente abrirmos nossas mentes para tentar ser criativos aqui. Por outro lado, no longo prazo, Eu penso, pelo menos, nos não podemos estar fazendo nada que torne essa parceria mais difícil no futuro. A Turquia está produzindo um enfoque novo muito interessante na política externa. Eles estão essencialmente dizendo para os EUA, “Nos compartilhamos seus valores, Nos compartilhamos seus objetivos nessa parte do mundo. Nos somo seu aliado militar. Nos apoiamos os mesmos princípios que vocês apoiam. Mas nos temos alguns conselhos sobre táticas para você. Você não pode ser tão confrontante aqui. Você tem que diminuir a retórica e tentar resolver alguns dos problemas nessa região através da diplomacia e negociação e compromisso.” A América não está pronta para esse tipo de conselho ainda, e isto é o que realmente fica por trás dos atritos dessas últimas duas semanas entre a Turquia e os EUA.
(minha tradução do Democracy Now)

Um comentário:

  1. Stephen Kinzer deixa-me duvidoso sobre o que realmente pensa, tenho sempre presente que estou a ler através de uns óculos que estão a manipularem-me.
    Talvez alguma vez, possa ter confiança nos seus escritos. O que me leva a ter alguma crença? Por exemplo a leitura do que estou a comentar ou do que li no livro "Os homens do Xá".
    Mas o passado dos EUA na sua relação com o mundo, nomeadamente nas suas intervenções sempre iguais, que o Afeganistão 2021 mostra como já demonstrou o Vietnam, Grenada, Guatemala e quantas dezenas mais, não possibilitam acreditar, nem mesmo na grande maioria dos jornalistas americanos. Mas não tenho dúvidas de que tenho pena por esse país e fundamentalmente pela humanidade.

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